Meu nome é VITOR LUIZ FAVERANI TATSCH, 20 anos, 2,12 de altura e calço 53 e meio, vivo em Málaga e sou jogador de três times distintos:

•Unicajabaloncesto – ACB;
•Euroliga Espanha;
•Clinicas Rincon Axarquia – Leb Oro.

Paulínia foi o marco inicial de minha carreira.
Quando tinha 10 anos, meus pais se separaram e minha mãe, comigo e mais três irmãos nas costas, decidiu se mudar para Paulínia para começar uma nova vida. Para conseguir nos sustentar, ela trabalhava em média 16 horas todos os dias, e por ficar tanto tempo fora de casa, decidiu ocupar nosso tempo ocioso nos colocando para praticar esportes, com a intenção de nos afastar das vidas nas ruas.
Íamos diariamente ao centro esportivo patrocinado pela prefeitura. No período da manhã ia para a escola, e a tarde, ficava no ginásio praticando todos os esportes possíveis: basquetebol, handball, natação, voleibol, entre outros. Nos intervalos, ganhávamos lanches, que era a minha felicidade do dia. O que eu não imaginava era que através do esporte eu estava construindo a minha maior oportunidade de ser alguém na vida.
Eu, com meus 14 anos, 1,98m de altura, extremamente magro e com todos os medos e dúvidas normais de qualquer adolescente, tive o apoio dos treinadores Julis e Chinês, que além de auxiliarem na minha formação como um grande jogador de basquete, foram como o pai que nunca tive. A situação difícil em que me encontrava poderia me levar a ser um drogado, desocupado, ladrão. Acreditar em Deus e seguir os conselhos dos meus treinadores me manteve no caminho correto e sempre centrado nos esportes. Por tudo isto, decidi me focar apenas no basquete, pois minha paixão pelo esporte começou a se sobrepujar sobre os outros.
Nada na minha vida foi fácil. Eu morava num bairro chamado São José que ficava aproximadamente a 7 km de distância do ginásio. Fazendo chuva ou sol eu sempre ia ao treino. Como minha mãe não tinha condições de me comprar um tênis, o jeito era fazer uma “vaquinha” entre meus avôs (maternos), tios e amigos para comprar um par de tênis treino. Porém, por ser o único que eu tinha, precisava tomar extremo cuidado para mantê-lo durante muito tempo sem estragar. Na época eu calçava 46 e o maior número de um chinelo simples e barato era 44. Eu fazia toda a caminhada, de casa até o ginásio e vice-versa, com os calcanhares de fora para não gastar o tênis. Assim era minha rotina, estudando, treinando, até que chegou o dia em que meus treinadores me inscreveram no quadro de jogadores que participariam dos jogos abertos, e foi nestes jogos que minha vida começou a mudar.
Uma pessoa do clube Uniara/Araraquara, ficou interessada em mim após me ver jogando. Entraram em contato com minha mãe (que nem podia acreditar que aquilo estava acontecendo) e assim fui com a cara e a coragem para a cidade de Araraquara – SP tentar a vida como jogador. Lá eu teria todas as refeições, roupas de treino, tênis, escola e ainda receberia R$ 200,00 mensais. No inicio nada foi fácil, ficar longe da família era muito difícil e eu só os via de 2 em 2 meses, mas aproveitei todas as chances que tive. Um dia, o treinador do clube me chamou para dizer que tinha conversado com um agente de uma das maiores empresas de agenciamento de jogadores no Brasil e que estavam muito interessados em mim. A partir daí minha vida mudou de “água para vinho”.
Fui convidado a fazer uns testes na Europa, a cidade era Málaga – Espanha, Após o término dos testes, fui informado que tinha passado e que já tinha uma proposta de trabalho.
Com autorização e incentivo de minha mãe, aceitei e fui pra Espanha. Na Europa, tive a oportunidade de ser treinado pelos melhores treinadores espanhóis que tinham a missão de me lapidar e tornar-me um jogador de basquete melhor do que já era.
Com o salário que passei a receber estou podendo ajudar minha mãe e irmãos e dá-los condições que nunca tiveram antes, principalmente a minha mãe, que sempre me incentivou e me ajudou muito.
Quero salientar que nada disto teria acontecido se não fosse a fé que minha mãe possui em manter Deus sempre vivo dentro de nossos corações, de acreditar Nele e também de ter encontrado na minha trajetória, bons e competentes treinadores que me ajudaram e ainda me ajudam a enfrentar as barreiras que a vida nos coloca. Tudo isto contribuiu para que eu me tornasse hoje um homem digno de respeito e corajoso.
As coisas ainda continuam difíceis, a cada dia que passa os desafios são maiores e a cobrança é imensa, mas com o apoio que recebo de minha mãe, irmãos, namorada, avós e amigos fiéis, estou conseguindo construir minha vida e cada dia que passa eu me sinto mais e mais renovado em fazer aquilo que é minha paixão, minha razão de tudo o que aconteceu e esta acontecendo comigo, que é o BASQUETE.

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